Conteúdos Digitais: será o fim do impresso?

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A transformação digital tem alterado a forma de trabalho de quase todas as profissões, inclusive quando pensamos no jornalismo. A chegada de smartphones e tablets fez com que a busca por informações online aumentasse, colocando a mídia impressa em um grande dilema: como voltar a vender notícias diante das inovações disruptivas que tem mudado o mercado de consumo de notícias?

Segundo dados do Poder360, a queda no consumo de notícias impressas é inegável. O portal aponta, por exemplo, que a impressão de jornais em 2015 ultrapassava a média de 200 mil exemplares por dia. Já em 2017, o saldo não chegou a 150 mil diários. E os números continuam caindo. Estudos do PwC mostram que, em 2016, este mercado era de quase US$ 1,5 bilhão, mas deverá ser reduzido, em média, 0,3% ao ano até 2021.

E a decaída pode ser vista em plataformas impressas. A era digital influencia, também, a venda de livros e revistas impressas. Ainda de acordo com a PwC, livros impressos serão reduzidos 1% ao ano nos próximos cinco anos, e o investimento em sua versão digital deverá crescer cerca de 10% no mesmo período. Alguns aplicativos de leitura já são bem populares: Aldiko, Kindle, Ebook Reader, entre outros.

No caso de revistas, a queda é mais acentuada, cerca de 3% ao ano até 2021, reduzindo o mercado de US$ 602 milhões, em 2016, para US$ 526 milhões.

Logo, a solução para estes meios parece ser investir em suas versões digitais. Revistas como Veja, Exame e a própria Época, entre outras, já conseguiram estabelecer que seus conteúdos sejam distribuídos para as duas plataformas. No entanto, essa transição ainda tem um longo e complexo caminho que precisa ser trilhado.

Muitos veículos, por exemplo, atualmente investem no pay wall, um sistema de assinaturas que permite ao leitor acesso ilimitado a conteúdos restritos. O número de assinantes vem aumentando, porém até 2021 não ultrapassará 5% do total da receita de consumo destas empresas, segundo a PwC.

Apesar deste cenário, a tecnologia trouxe grandes benefícios para o aumento da eficiência financeira nos veículos, dentre eles, a redução de custos para a produção dos cadernos impressos, por exemplo. Além disso, o trabalho de produção e postagem da notícia se torna mais simples, rápido e interativo.

No entanto, para que a transição para o meio digital seja bem-sucedida, é preciso que os veículos realmente invistam neste universo, produzindo desde layouts mais amigáveis para a leitura de notícias por intermédio de celulares e tablets, até a elaboração de conteúdos mais enxutos e de leitura mais rápida. Afinal de contas, a transformação digital trouxe também o excesso de conteúdo que precisa ser filtrado e desenvolvido para uma sociedade que vive em constante estado de pressa.

Alguns veículos têm se saído bem nesta transição. É o caso da revista adolescente Capricho, da editora Abril. Vendendo exemplares desde 1952, em 2015, a editora encerrou a produção de novos volumes, dedicando-se somente ao meio digital.

Outro exemplo é a revista Ok Mag, voltada para o mundo da moda, que deu início às publicações em 2013 e, atualmente, tem grande força no meio digital, inclusive vendendo suas versões impressas somente pela internet.

Também existem conteúdos voltados somente à plataforma digital, como é o caso da revista Espaço Ética. Criada e alimentada por iniciativa acadêmica, o veículo é patrocinado por pesquisadores de diferentes áreas das ciências humanas e fornece materiais com livre acesso.

Em meio a essa mudança, o jornalista e professor Marcelo Freire afirma que veículos que já nasceram online encontram maior facilidade nessa transação. “As revistas nativas digitais estão mais adaptadas ao meio e aos dispositivos do que aquelas que estão associadas a títulos originais do impresso”, declara. No entanto, essa transição ainda acarreta diferentes questionamentos, tais como: o digital substituirá o impresso? Os jornais de papel morrerão?

É claro que suposições não definirão o futuro do jornalismo. Porém, o que se sabe é que este movimento transitório é indispensável para a sobrevivência de qualquer veículo, e resistências só serão prejudiciais.

Talvez, uma solução segura para o impresso seja investir em veículos segmentados e mais complexos, cheios de conteúdo rico e apresentando diferentes pontos de vista sobre um assunto.

É possível que, com um perfil mais analítico e justamente voltado para uma leitura menos apressada, o impresso possa sobreviver como objeto de nicho, com números menores, porém mais fiéis de leitores. Claro que esta é uma hipótese, mas, uma coisa é certa, já fomos abraçados pelo universo digital e, quem não percebeu, certamente ficará para trás.

 

Ketheleen Oliveira é assistente de conteúdo na IDEIACOMM

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