A transformação digital trouxe benefícios inegáveis para a economia contemporânea e para o novo contexto do mercado de trabalho: possibilidade da efetivação de modelos híbridos e de home office nas empresas; construção de equipes multiculturais que não se restringem as barreiras dos escritórios tradicionais; soluções inovadoras que otimizam processos e contribuem para a eficiência das equipes.
Em contrapartida, o cenário atual acendeu também um novo alerta para a questão da saúde mental no ambiente corporativo, diante do aumento de casos de burnout nas organizações e de problemas relacionados à insatisfação, excesso de demandas e da dificuldade de “se desligar” do trabalho nas horas de lazer.
Uma pesquisa da USP relatou, por exemplo, um aumento expressivo de 21% nos casos de burnout em 2021 no Brasil e de cerca de três vezes nos quadros de ansiedade e depressão no comparativo com 2020.
Vale frisar que o burnout se caracteriza, justamente, pelo esgotamento físico e emocional especificamente relacionado ao trabalho e que os dados do levantamento da Universidade de São Paulo dialogam com outros estudos que demonstram a importância das lideranças colocarem a saúde mental de seus colaboradores no centro das preocupações das empresas, sob o risco, inclusive, de impactos financeiros e do turnover de talentos.
A Optum, por exemplo, destacou que, de 2011 a 2020, o número de trabalhadores que buscaram auxílio psicológico nas empresas saltou 250%. Por sua vez, a International Stress Management (ISMA) indicou, recentemente, que a força de trabalho do Brasil é a segunda mais estressada de todo o mundo.
Mas os efeitos desse cenário desafiador – que, segundo uma pesquisa do Grupo Adecco, tem relações diretas com o contexto de digitalização e de falhas na gestão do trabalho híbrido e home office – se refletem não só nos colaboradores, mas diretamente na estrutura financeira das empresas.
Já em 2019, dados da London School of Economics and Political Science apontaram que as companhias brasileiras perdiam, em média, US$ 200 bilhões, quando deixavam de tratar de modo precoce casos de depressão e ansiedade em seus contextos corporativos. E isso sem falarmos na perda de produtividade, haja visto que a falta de atenção à saúde mental tem implicações diretas em afastamentos no trabalho (que, aliás, aumentaram 26% entre 2020 e 2019, segundo dados do próprio INSS).
Clima organizacional
Por tudo isso, o primeiro ponto que precisa ficar claro é que a saúde mental no trabalho é uma demanda que envolve não só as áreas de recursos humanos, mas todas as lideranças em um esforço de gestão organizacional e cultural. É importante termos em mente que a produtividade não deve ser confundida com uma cultura de esgotamento e de desrespeito a horários, vida pessoal e lazer de nossos colaboradores.
Ter essa mentalidade é um primeiro passo, mas precisamos ir além enquanto gestores e implementarmos ações efetivas em prol de um clima organizacional positivo e do cuidado preventivo com saúde mental, o engajamento e a felicidade de nossos times e talentos – posto que são eles, inclusive, os principais elos para a construção do sucesso de uma organização.
Nesse sentido, acompanhando debates recentes sobre o tema, destaco aqui três estratégias voltadas a esse cuidado.
O primeiro ponto – e possivelmente o mais complexo – envolve uma profunda transformação cultural nas empresas e na forma como nos relacionamos com a tecnologia – um suporte fundamental para o trabalho contemporâneo, mas que, quando serve de base para modelos de trabalho ininterruptos, perde seu propósito de geração de resultados qualitativos. Aliás, uma boa dica é tomarmos como princípio um insight que já está se tornando um jargão do mercado: produtividade é muito diferente de “matar-se” de trabalhar.
A segunda estratégia diz respeito à educação emocional. Nós, enquanto lideranças, devemos nos capacitar para entender o momento de nossas equipes e possíveis sinais de esgotamento, ansiedade e depressão, direcionando os colaboradores para um apoio especializado e prevenindo que os casos se tornem críticos a ponto de gerarem afastamentos.
Finalmente, é importante que se quebrem as barreiras de diálogo entre lideranças e colaboradores, inclusive para que eles se sintam à vontade para discutir problemas, necessidade de apoio ou mesmo quando se sentem sobrecarregados, sem que haja medo de punição ou uma “cultura do erro” pouco coerente com a realidade atual do mercado.
E, se falamos dos impactos, os benefícios de um clima organizacional positivo são também inegáveis e envolvem, inclusive, um aumento de 3 a 8 vezes no ROI das empresas. Em outras palavras: a saúde mental é uma pauta estratégica da gestão de pessoas. Consequentemente, quando encaramos o tema com essa perspectiva, muitos frutos podem ser colhidos e, no melhor dos mundos, nossos tempos de burnout ficarão no passado.
Camila Thomaz é Diretora Comercial da IDEIACOMM, agência de conteúdo, social media, eventos corporativos e assessoria de imprensa para empresas de Tecnologia, Startups, Tributaristas e área Jurídica.