A cultura pop traz referências contundentes para quem busca compreender o fenômeno da polarização e sua influência sobre nossa sociedade
Atualmente, o jornalismo funciona como uma área praticamente híbrida, por navegar em setores diversificados. E isso indica, de forma abrangente, que o setor está sujeito a fenômenos de grande escala social, política e, por que não, cultural. No epicentro de um mundo cada vez mais polarizado, desconectar a função jornalística do tema não só coloca o profissional à margem de demandas reais, como compromete a comunicação em sua totalidade, deixando países como o Brasil sem esse importante fio condutor entre população e governo.
Sem dúvidas, há uma complexidade inicial que se estende para quem deseja analisar o contexto sociopolítico de nosso país. Mas o primeiro passo para cumprir um dever cívico a todos – especialmente para jornalistas – é simplesmente debater o assunto, reconhecendo aspectos sensíveis que contribuíram para a construção da sociedade que temos hoje.
Mais uma vez, a cultura de entretenimento surge como uma aliada enriquecedora, sob um viés de entregar mensagens necessárias por meio de obras únicas, cada qual com suas propostas e naturezas estruturais. Pensando nisso, separamos um filme, um documentário e uma história em quadrinhos para quem deseja entrar de cabeça nos meandros da polarização e seus reflexos sociais. Boa leitura!
Adeus, Lenin! (2003)
Dirigido por Wolfgang Becker e estrelado pelo jovem Daniel Brühl, que mais tarde brilharia nos filmes da Marvel Studios, Adeus, Lenin! retrata, de maneira cômica e bastante sensível, a relação de uma família alemã frente à iminência do fim da Guerra Fria e a queda do muro de Berlim. Vivendo na Berlim Oriental, sob domínio socialista, Alex, o protagonista, se encontra em um dilema moral que rende uma série de acontecimentos memoráveis, credenciando a obra como uma opção muito interessante.
Após sua mãe – uma mulher totalmente devota e engajada à causa socialista – sofrer um ataque cardíaco, deixando-a em estado de coma e com extrema fragilidade mental, o filho faz de tudo para preservar no imaginário da mais velha a continuidade do governo socialista, mesmo em meio à queda do muro, a reunificação da Alemanha e a expansão capitalista no país e ao redor do mundo. Todos esses elementos, até então, alheios ao conhecimento de sua mãe, por sua gravíssima situação de saúde. Um belo exercício sobre o poder exercido pela ideologia em nós e, claro, uma ótima visita sobre um momento crítico para a história da humanidade como um todo.
8 Presidentes 1 Juramento – A História De Um Tempo Presente (2021)
Olhando para o Brasil, a polarização parece ter atingido seu ápice nos últimos anos. Realmente, o consenso é de que vivemos em tempos perigosos, em que lados estão estabelecidos e preparados para conflitos nas mais variadas esferas. Mas o que nos fez chegar até esse ponto? 8 Presidentes 1 Juramento, documentário escrito e dirigido por Carla Camuratti e Mário Andrada, trouxe um ótimo panorama contextual sobre o cenário político brasileiro, passando pela redemocratização, o movimento das Diretas Já e outros momentos marcantes de nossa trajetória política.
Nada é por acaso. E nessa série de eventos apresentada pelo documentário, é possível entender a funcionalidade de Brasília, seus propósitos, e como as engrenagens da política brasileira são caóticas, às vezes, propositalmente. De fato, o Brasil não é para amadores.
Guerra Civil (2006)
O que acontece quando os heróis que deveriam nos proteger se voltam contra si? Dentro de um plano de fundo de total polarização ideológica, Guerra Civil traz os principais personagens da Marvel em uma jornada de autodescobrimento, divisão e muitos questionamentos sobre até que ponto é válido lutar por uma causa. Quais são os custos? E as justificativas?
Escrita por Mark Millar e desenhada por Steve McNiven, a obra é um clássico absoluto dos quadrinhos de super-heróis e ainda rende debates acalorados sobre quem estava certo, Capitão América ou Homem de Ferro, além de um choque extremamente atual quanto ao embate filosófico entre liberdade e segurança. Na HQ, o estopim se dá pela aprovação de uma lei federal de registro dos super-humanos, proibindo identidades secretas e institucionalizando grupos como os Vingadores como agentes estadunidenses. Alguns concordam, outros discordam. Para os leitores, uma trama envolvente e repleta de reviravoltas.
E aí? Gostou da lista? Fica de olho no blog da IDEIACOMM para mais dicas culturais. Até a próxima!
Fabio Oliveira é Coordenador de Conteúdo e PR na IDEIACOMM.