Visando a divulgação na mídia, o artigo jornalístico apresenta uma espinha dorsal bem definida, mas é preciso segui-la à risca?
O jornalismo, enquanto um reflexo direto de nossa sociedade, permanece em um modus operandi de alta mutabilidade. Hoje, por exemplo, é impossível desconectar a profissão do ambiente digital, que funciona como uma espécie de catalisador de informações, análises, notícias, entre outros elementos produzidos por profissionais que respiram a comunicação e buscam explorá-la incessantemente.
Mesmo com o avanço de novos formatos, mídias mais imediatistas e canais que prezam pela velocidade, o artigo de opinião manteve-se dentro de um espectro de caráter dogmático, se levarmos a essência jornalística ao limite. Afinal, é praticamente impensável construir um texto que não ofereça a profundidade desejada, com o risco de ter seus apontamentos questionados ou desacreditados pelo leitor. Se posicionar quanto a temas carentes a rigor social, expor diferentes e interessantes pontos de vistas, demonstrar o que sua empresa ou marca tem a dizer sobre acontecimentos recentes, o texto corrido ainda é a alternativa mais atraente para expor informações de forma coesa, completa e que faça jus ao compromisso com a verdade – um tópico, mais uma vez, quase sagrado sob a perspectiva acadêmica do jornalismo.
Para tanto, um bom ponto de partida é o entendimento do que realmente define um artigo de opinião bem-sucedido, destacando, ainda, a importância de também ser um pouco disruptivo em relação às regras tradicionais, claro, desde que princípios que definam a abordagem técnica permaneçam intactos.
O paradoxo da prisão criativa
Como o próprio título do blogpost sugere, existem três aspectos cruciais para a construção de um artigo de opinião. Obviamente, a própria visão do autor, que precisa ser configurada em opiniões respaldadas e objetivas; a informação, que não só serve para apoiar o ponto de vista exposto no texto, como traz veracidade e confiabilidade para o resultado final; e, por último, mas não menos importante, o contexto, que é responsável por aproximar o leitor e representar a realidade enfrentada por ele, etapa fundamental para que ocorra uma identificação, de modo que a ideia apresentada no material seja “comprada” pela maior quantidade possível de usuários.
Agora que você já está por dentro do plano de fundo mais indicado para formalizar uma proposta de artigo opinativo, a pergunta remanescente é: preciso seguir todas essas exigências à risca? Onde está a liberdade do criador? E mais: por ser um conteúdo de opinião, não seria um contraponto impor tantas regras previamente estabelecidas? Bom, sim e não.
No início do artigo, destaquei como o jornalismo funciona em um estado de mudanças constantes. Em uma clássica entrevista que pode ser facilmente encontrada na internet, Bruce Lee, histórico astro do cinema de gênero e artes marciais, afirmou que “se você coloca a água em um copo, ela se torna o copo, na garrafa, a mesma coisa, na chaleira, também se molda ao objeto”, ou seja, a água é amorfa, capaz de se adaptar a qualquer circunstância, mas continuará sendo água.
Com o perdão da analogia, a premissa é bastante parecida. O jornalismo pode e deve navegar por formatos, canais, mídias e veículos diferentes, mas suas raízes sempre serão as mesmas. Inove, coloque ideias de forma expositiva, desperte a reflexão do leitor com referências do nosso dia a dia, utilize exemplos reais – as possibilidades são infinitas! Entretanto, se o objetivo é construir um artigo calcado em um viés jornalístico bem resolvido e responsável, alguns critérios devem ser pautados e transmitidos no decorrer do texto. O segredo está, sem dúvidas, na habilidade do escritor em harmonizar uma proposta instigante e uma estrutura segura.
Fabio Oliveira é Produtor de Conteúdo na IDEIACOMM.