Com os anos, o jornalismo sofreu grandes mudanças, e a internet chega para revolucionar a maneira de se construir uma notícia
Quem assistiu Spotlight: Segredos Revelados (2015), dirigido por Tom McCarthy e vencedor de dois Oscars em 2016, certamente conseguiu ter a percepção de como funcionava o processo de apuração jornalística no início dos anos 2000. O filme é ambientado em 2001, quando jornalistas do jornal The Boston Globe iniciam uma investigação relacionada a membros da Arquidiocese católica da cidade de Boston. Aliás, essa produção é baseada em fatos reais e, quando o caso ocorreu, a investigação chegou a ganhar até mesmo o Prêmio Pulitzer de Serviço Público.
Embora o filme apresente elementos fictícios (o Information is Beautiful aponta que Spotlight é 76% fiel aos fatos), é possível que o público tenha uma boa noção de como as redações jornalísticas, sobretudo as que lidam com jornalismo investigativo, funcionam. No entanto, com o crescente uso da tecnologia desde então, muitos aspectos mudaram.
Nas últimas décadas, os formatos jornalísticos e o tipo de consumo de notícias se transformaram por completo, considerando até mesmo o movimento de digitalização. De acordo com a Infobase, nos últimos anos, 94% das empresas aumentaram o foco no crescimento digital e, durante o período de pandemia, segundo o estudo “Covid-19 e o futuro do negócios”, desenvolvido pela IBM, seis em cada dez empresas investiram mais nos projetos de digitalização. No jornalismo, o cenário é parecido.
Novas técnicas chegam ao jornalismo
Atualmente, as técnicas por trás da notícia jornalística são bem diferentes do que costumávamos ver no início dos anos 2000 e é fundamental aplicar conceitos como storytelling e UX writing ao leitor. Aqui, vale apenas um parêntesis para contextualizar estes termos: enquanto o storytelling pode ser definido como uma arte de contar histórias encantadoras, o UX writing está ligado à Experiência do Usuário, possibilitando a melhor experiência do leitor em uma narrativa digital.
Mais do que relatar o fato, é necessário saber como levar uma notícia à sociedade. Em um mundo imediatista, com pouco tempo para redação de determinada matéria, encontrar um equilíbrio acaba sendo uma tarefa árdua, mas essencial para que o bom jornalismo continue sendo feito. Dessa forma, olhar para a sociedade e se portar como um agente de transformação é indispensável nos dias de hoje, sem deixar a inovação de lado.
É impossível não falar sobre jornalismo digital
Tendo em vista este cenário de grandes mudanças, pilares básicos do jornalismo digital – chamado também de ciberjornalismo ou webjornalismo – passam a ganhar destaque, desde a arquitetura das informações até mesmo as técnicas de SEO, que também estão em constate mutação. Logo, é preciso pensar no formato em que as notícias são veiculadas e como elas chegam até o público.
Não basta, por exemplo, transpor uma reportagem de determinado jornal sem adaptar sua linguagem. Estar presente no digital é entender que o ambiente online é diferente, principalmente em relação ao volume de conteúdos publicados.
Lá no início deste conteúdo, comentei sobre como o filme Spotlight mostra nitidamente o dia a dia do jornalista do começo dos anos 2000. Contudo, já parou para pensar onde os veículos de comunicação estariam se não se adaptassem ao mundo moderno?
É imprescindível compreendermos o tipo de linguagem adotada e, sobretudo, pensarmos em formas de fazer com que o bom jornalismo seja disseminado por todo o país. Afinal, embora vivenciemos um período de forte digitalização, no Brasil, mais de 33 milhões de pessoas sequer têm acesso à internet (segundo dados do Instituto Locomotiva e da consultoria PwC).
Por fim, utilizar a digitalização do jornalismo como um vetor de mudanças é algo essencial, mas é necessário termos em mente a importância de espalhar a informação verdadeira e previamente apurada para a maior quantidade de pessoas, tendo o digital como impulsionador deste processo, e não o contrário.
Bianca Bispo é Líder de Assessoria de Imprensa na IDEIACOMM.